Lote customizado: Entre a escala e a customização…o melhor dos dois mundos.
Lote customizado: Entre a escala e a customização, opte pelos dois
Recentemente participei de um debate acalorado entre dois profissionais da área industrial moveleira, em uma velha e recorrente questão. Um deles, profissional de longa data, defendia veementemente a questão de que o retorno empresarial se dá pelo ganho em eficiência, dentro de um volume processado em escala, o famoso lote produtivo. Complementarmente defendia que a planta industrial impede a mudança de vocação do produto e desta maneira o nicho de mercado da empresa.
De outro lado, um também profissional, porém há menos de 2 anos longe da universidade, (quase um recém-formado, adotando um bordão de cunho comercial), argumentava que a margem do produto customizado garante ao menos o triplo do resultado esperado por unidade comercializada (na verdade ele não sabe, mas essa margem é maior ainda). Dentro deste contexto, defendia que os novos tempos exigem que toda essa planta (o layout e respectivos equipamentos) precisa ser revista para atender um novo produto.
Como o assunto embora recorrente, estava apaixonadamente bem fundamentado por ambas as partes e, considerando que nosso único compromisso remanescente da tarde seria aguardar o início do jogo do Brasil, tínhamos ali 20 minutos valiosos de um belo embate, decidi apenas observar sem tomar partido…
Dentro da escola de Taylor, que aliás é predominante no segmento moveleiro, observamos o desenho tático (desculpe o palavreado, mas está na moda por causa da Copa) das empresas que trabalham no “low cost” com sua produção enxuta e lotes direcionados a um misto de “make to order” com “make to stock”. Vou traduzir…para amplificar sua produtividade, a empresa precisa fechar o lote de produção atendendo os pedidos existentes em carteira e ainda adicionalmente, antecipar uma demanda futura estatisticamente mensurada no PCP, sendo assim, parte deste lote…vai para o estoque (geralmente para os próximos 15 a 30 dias, dependendo do mix da empresa).
Observando este método de trabalho, o mais comum atualmente no segmento moveleiro, a empresa possui um produto bem definido e tem dificuldades em atender a classe B, não atingindo a faixa B+. Por outro lado, de uma maneira bastante assertiva, possui total domínio sobre o mercado da classe B- e todo o espectro da classe C, atentando-se ao fato de que aqui ocorre a grande gerra das margens e o enorme espaço de comercialização do varejo atual.
Voltando para a outra ponta, observamos os produtos “premium”. desde materiais até características construtivas, feitos individualmente por marcenarias, dentro do modelo da customização unitária. Sabemos que a indústria seriada nem sonha com este tipo de cliente, mas exatamente aqui cometemos um erro conceitual. Precisamos observar de perto este tipo de ambiguidade da teoria, vou explicar…
Quando falamos de “premium” estamos mentalizando a Classe A, é verdade, porém vamos adiante dentro deste raciocínio. Observemos agora os produtos modulados e os planejados mais simples, podemos postular que trata-se de um movimento nesta direção. Embora não consigam atingir a classe A, estão presentes hoje em dia dentro de um espectro amplo das classes sociais, ou seja, não participem da D, mas figuram desde a classe C.
Provavelmente não encontraremos modulados na classe A, mas já encontramos planejados na classe C. Então, dentro do dilema inicial, a customização enxergou a classe C, mas a escala não enxergou a classe A. Chegamos ao ponto que era necessário para defender minha ideia apresentada à seguir.
Dentro da discussão inicial, não existe realmente a viabilidade de alterar o layout industrial. Adicionalmente, produção customizada não geraria receita suficiente por maior que fossem as margens, capaz de sustentar tal estrutura fabril vigente.
Porém, existe a inteligência daqueles que aprenderam a trabalhar dentro da diversidade, aqueles que aprenderam a se afastar de conceitos “absolutos”, nem tanto fogo, nem tanto água, existe um mundo a se explorar dentro do talvez, falamos da escala customizada. Dentro de seu modelo produtivo estamos nos referindo ao lote customizado.
O espaço deste blog não é suficiente para desenvolver este assunto, discorreríamos por diversas postagens dentro do mesmo tema até atingir objetivo esperado, preciso então ao menos fechar o assunto para aqueles que entenderam minha linha de raciocínio e querem o caminho fundamental do modelo mentalmente idealizado.
Tente imaginar dois bolos de chocolate exatamente iguais, porém um deles finalizado com glacê rosa escrito o nome de uma menina e outro com glacê branco escrito o nome de um menino. Falamos exatamente do mesmo produto seriado, porém, dotado de uma “CÉLULA DE CUSTOMIZAÇÃO” em um de seus processos ou mais deles. Caso você imagine esta operação, certamente enxergará dois bicos distintos de aplicação de glacê no posto de trabalho do confeiteiro. Quem não entende o modelo, certamente vai criticá-lo dizendo que é necessário “lavar” o único bico na troca do glacê, que pena…
Algumas empresas, através dos produtos “flex” tem conseguido mesmo que inconscientemente atender parte desta teoria, observem que neste caso elas não particularizam o layout, mas apenas o produto, não se trata do lote customizado e sim do produto flexível, este é um outro caminho.
Células de customização, a ideia é antiga, mas a prática está longe de ser adequadamente explorada no mercado atual. O grande “insight” deste modelo, é o fato do empresário ser capaz de participar dos dois mundos, fazendo o caminho inverso da marcenaria que atingiu a classe C.
Viabilizar o lote customizado, óbvio que isto aumenta a mão de obra dentro da fábrica, mas observem os benefícios, a capacidade de vender quase que o mesmo produto para dois varejistas VIZINHOS de ponto comercial, sem com isso criar tensões de relacionamento. A capacidade de preservar as margens devido ao fato de não ser canibalizado em tabloides dos respectivos clientes, através da comparação direta de produto.
Existe diversos aspectos secundários positivos na adoção do lote customizado que poderíamos discorrer ainda, mas voltando à discussão do início, não era hora nem o fórum adequado para explicar este tipo de conceito. Dependendo da situação, o esclarecido corre o risco de ser o chato de plantão, principalmente ali, o jogo estava começando, vai Brasil…
Cláudio Perin – Consultoria para o Setor Moveleiro