OEE – Gerenciamento Online da Produção na Indústria de Móveis

Gerenciamento Online da Produção Moveleira no Brasil

Neste post tentarei retratar o motivo de certas perguntas recorrentes dentro do setor moveleiro no Brasil. Uma delas, talvez a principal, o motivo pelo qual o investimento em tecnologia sempre acontece primeiro em outros segmentos industriais e somente depois de consolidado, atinge as estruturas organizacionais das industrias de móveis.

Pois bem, para tanto traçarei um paralelo entre as ferramentas CAD, os sistemas ERP e finalmente concluindo, o gerenciamento online da produção segundo os critérios do OEE (Overal Equipment Effectiveness). A ferramenta é conhecida como MES (Manufacturing Execution System) e possibilita a visibilidade dos processos em andamento e tomada de decisão em tempo real.

Embora a tecnologia CAD idealizada na década de 50 tenha deixado os laboratórios e adentrado a indústria apenas em meados dos anos 70 (utilizando hardwares específicos e linguagem Fortran), oficialmente e comercialmente, a história do CAD se confunde com o AutoCAD (produto da empresa americana Autodesk), lançado em 1982 para uso em computadores pessoais.

Sendo formado em engenharia mecânica pela Unicamp, logo no início dos anos 90 tive a sorte de estar na primeira turma de formandos com acesso à este tipo de tecnologia, o que me trouxe o senso de observação tecnológica que tentarei descrever neste paralelo que desenvolvo agora.

Na própria década de 70, as empresas automobilísticas americanas já eram detentoras da tecnologia CAD no desenvolvimento de produtos, o que consolidou-se na década de 80 nos demais segmentos industriais americanos. No início da década de 90, engenheiros brasileiros como eu que dominavam o AutoCAD R12 eram disputados a peso de ouro no mundo corporativo.

Quanto ao segmento moveleiro, nesta mesma década de 90, diversos fabricantes classificavam como “frescura” a utilização da tecnologia CAD e relutavam em investir no que classificavam como desnecessário e avançado demais para as necessidades e padrões da indústria de móveis da época.

No início segundo milênio estes mesmos fabricantes, diante da forte concorrência e aumento da frequência de lançamento de produtos, correram desesperadamente atrás do prejuízo, implantando da maneira mais rápida possível as ferramentas CAD antes rejeitadas. Hoje (2016) torna-se impossível imaginar um gerente industrial que não conheça medianamente ou um projetista que não domine extensivamente a tecnologia CAD. Complementarmente, a realidade virtual 3D alimenta catálogos e descritivos técnicos de lojas físicas e online dos mais variados tipos de mobiliário.

Em nosso paralelo rumo ao ERP, notamos que este termo teve sua origem ano ano de 1990 pelo Gartner Group (Empresa de consultoria de Stanford, USA). Entretanto o ERP é um conceito que nasceu da fusão de técnicas e tecnologias anteriores. Falamos do MRP I e II somados a sistemas contábeis, comerciais e administrativos vigentes na época. O ERP passou a ser de maneira ampla o conjunto de informações necessárias para a gestão empresarial, a soma e integração de todos os sistemas tecnológicos voltados ou não para a produção.

Seguindo o raciocínio apresentado, a década de 90 foi um momento de extrema transformação empresarial a níveis globais, onde empresas bem estruturadas adotaram o ERP como ferramenta de crescimento sólido e organizado. Aqui no Brasil novamente, com o atraso de uma década, quem não se lembra do Bug do Milênio, onde os recém implantados ERPs passavam por uma grande prova de fogo.

Novamente na indústria moveleira, pude constatar ironicamente no início do segundo milênio que diversos empresários não tinham aprendido a lição da década anterior com o CAD e mais uma vez, zombavam de “programas caros” que mantinham os funcionários sentados digitando, enquanto a produção carecia de braços para fabricar os móveis que o mercado desejava. A maioria deles tinha programadores clipper, basic, delphi e afins, desenvolvendo os programas “quebra-galho mais que suficientes”.

Mais uma vez, com o atraso de DUAS décadas em relação às empresas americanas e UMA década em relação às empresas brasileiras, os segmento moveleiro mediano incorporava por volta do ano de 2010 o conceito de que sem ERP torna-se quase impossível a sobrevivência de uma fábrica de móveis mediana dentro do mercado contemporâneo. O ERP atualmente interliga-se ao CAD, apoderando-se das informações técnicas por ele geradas e distribuindo de maneira consistente para onde se faça necessário.

A informação precisa agora migrar em multiplataformas, integrada a sistemas CAD, sites, ecommerces. sistemas do tipo salesforce e até mesmo equipamentos do tipo CNC. Pobres e heroicos programadores dos sistemas “quebra-galho”, por melhores que fossem, a demanda atual é colossal…sem um ERP bem estruturado é uma missão quase impossível atender tais necessidades de informação estruturada com qualidade, confiabilidade e sem redundância ou reentrada de dados.

O ERP hoje alimenta e aloja seus dados nas nuvens (internet), estando onipresente e levando ao extremo as possibilidades de gestão corporativa. Da mesma forma que o CAD, torna-se quase impossível conceber um gerente industrial que não seja capaz de compreender e utilizar um sistema ERP no gerenciamento da rotina. Decididamente ele não faz parte de nosso tempo, ficou perdido em algum momento do passado, por melhor sejam suas habilidades na gestão de pessoas.

Este tipo de ceticismo com a tecnologia incomoda quem trabalha com a mente voltada para o futuro, objetivando melhorias e otimização sistêmicas. A evolução exige que sejamos por vezes visionários, preparando a empresa para o futuro. Esta parece não ser a prática usual do setor moveleiro. pelo contrário, parece que é melhor esperar o sucesso dos outros, só para ter certeza da decisão. Isto é um comportamento desprovido de inteligência empresarial e com potencial suicida frente ao mercado.

O conceito do OEE (Overall Equipment Effectiveness) surgiu no Japão em 1982 por Seiichi Nakajima, um dos pais da TPM (Total Productive Maintenance), trazendo uma enorme revolução para a industria automobilística japonesa com a drástica redução dos custos de fabricação, via o que foi chamado de Lean Manufacturing. Já na década de 90 a indústria automobilística americana iniciou sua recuperação pela adoção da mesma sistemática japonesa.

Desta vez com uma década de atraso, os americanos forma forçados a correr atrás de um enorme prejuízo de competitividade. A indústria brasileira de maneira geral, com DUAS décadas de atraso frente aos japoneses e UMA frente aos americanos, adotou o Lean Manufacturing e as práticas do OEE após o ano 2000. Sistemas do tipo MES começaram a desembarcar em arranjos produtivos complexos das grandes corporações.

Atualmente (2016) diversos segmentos industriais brasileiros encontram-se em estágio de implantação do gerenciamento online da produção. Através dos sistemas MES que adotam metodologia OEE, diretamente integrados aos ERPs existentes, adquirem grande velocidade na tomada de decisão e visibilidade do processo produtivo, permitindo atuação direta no problema raiz tão logo o mesmo ocorra.

Mais além, o gerenciamento online da produção (MES) possibilita a validação de melhorias de produto e processo de uma maneira extremamente simples e objetiva. O comparativo das melhores práticas em classe mundial OEE (o mesmo referencial), permite aos fabricantes observarem qual o estágio de sua empresa frente ás demais no mesmo segmento.

Finalmente observo que mais uma vez quem não aprendeu com o CAD, quem insistiu em não aprender com o ERP insiste agora em achar que o MES (gerenciamento online da produção segundo os critérios do OEE) é um modismo ou até mesmo uma “frescura” e assim sendo é melhor esperar para ver. Quem sabe em 2020 para manter os históricos teimosos 10 anos de atraso em relação à industria brasileira, veremos os gerenciamento online da produção como uma prática corriqueira dentro do segmento moveleiro.

Até lá o que fazemos é preparar e implantar o OEE nas empresas que apostam neste conceito e encontram-se devidamente preparadas com um sistema da qualidade desenvolvido e um ERP adequado. Sabemos que o “efeito manada” acontecerá nos próximos anos com os sistemas MES assim como foi historicamente no CAD e no ERP.

Neste meio tempo, tudo o que veremos é a distância entre empresas concorrentes aumentar cada vez mais até que os profissionais com poder de decisão finalmente absorvam o conceito do OEE assim como lentamente absorveram o CAD e estão atualmente absorvendo o ERP. Caso contrário, chegaremos a um ponto em que talvez seja demasiadamente tardia qualquer tentativa de reação por parte destas organizações.

Voltamos à pergunta inicialmente em questão. Por que o segmento moveleiro demora tanto a enxergar e implantar as oportunidades tecnológicas? A resposta é simples, porque não valoriza ou não detém os profissionais qualificados para este tipo de decisão, preferindo “pagar para ver”, ou melhor preferindo sempre NÃO PAGAR como prática de sobrevivência.

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A prática da escolha profissional pelo preço e não pelo valor

Ultimamente tenho por sorte convivido com empresários dotados de extrema lucidez organizacional, oportunidades em que um deles, um pequeno fabricante, deixou-me extremamente satisfeito com suas reflexões. Disse-me que embora técnicos qualificados não caibam em sua folha de pagamento anual, reserva anualmente quatro semanas do calendário não consecutivas para contratá-los simplesmente para diagnósticos de rotina. Recursos limitados, visão louvável…

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