Indústria de Móveis 4.0: Quais são os limites da transformação?
OS LIMITES DA INDÚSTRIA DE MÓVEIS 4.0
Neste mês de outubro, dentre minhas consultorias, realizei uma tour internacional de uma semana acompanhando um de meus clientes. Estivemos na Itália e Alemanha, onde pude auxiliá-lo tecnicamente durante a viagem. Atendendo necessidades específicas deste cliente, estivemos em contato com as matrizes dos principais fabricantes líderes mundiais de máquinas e equipamentos para a indústria de móveis. O foco principal da viagem consistiu em visitar não os fabricantes de máquinas, mas sim algumas fábricas de móveis italianas e alemãs específicas, as quais já incorporaram a filosofia da industria 4.0 em seu modelo de negócio. Desta maneira pude transmitir com a confiabilidade desejada, o que estamos desenvolvendo em termos de planejamento estratégico para o futuro próximo deste meu cliente.
Infelizmente, a grande maioria das informações que os olhos puderam captar não foram registradas em vídeo por motivos óbvios. Uma feira, por melhor que seja, mesmo a de Hannover, não consegue retratar o dia-a-dia de um equipamento dentro de seu contexto fabril. O que funciona perfeitamente, o que funciona bem e o que não funciona tão bem assim, isto só saberemos efetivamente no território do chão-de-fábrica. Desta forma, visitar uma empresa cuja estrutura encontra-se uma década ou mais à frente da sua, pode sim ajudar no sentido de encorajamento empresarial quanto ao investimento em estudo.
Constantemente sou questionado quanto aos valores deste investimento, é claro que eles são altos para a realidade brasileira. Contundo, alguns empresários conhecem muito bem o custo de se investir, mas não possuem a mesma facilidade ao avaliar o risco do não investimento para a sobrevivência de seu negócio.
Não posso entrar aqui no tema gestão porque preciso que este breve artigo seja técnico e não administrativo. Quero portanto comentar o vídeo em questão, o qual não se pode ser obtido por enquanto dentro de uma fábrica de móveis. Imagine portanto um sistema de estoque de chapas inteligente alimentando uma seccionadora ou nesting. Até aí não existe novidade pois isto pode ser observado nas feiras.
Vamos agora além, observe o vídeo apresentado porque precisamos explicar alguns detalhes que passariam desapercebidos aos olhos mais leigos. Você consegue ver um robô descarregando uma seccionadora, correto? Puxa fabuloso, porém existe muito mais por trás desta imagem. A primeira observação delas é que você precisa imaginar as peças já etiquetadas. Até ai também não existe novidade. Então olhamos a montagem das pranchas na saída da seccionadora, bacana, mas então qual a novidade que você ainda não viu?
Pois bem, a novidade não consegue ser vista claramente, mas vamos à ela: Desde o recebimento das chapas no estoque até a montagem das pranchas (pilhas) na seccionadora, não existe qualquer tipo de interferência humana no processo. O ser humano se limita à classificar as sobras definidas pelo otimizador como manuais. O sistema de gestão por trás de tudo isso (um software em rede) é capaz de informar ao robô quais são as peças, onde elas estarão, se existe corte de topo, pre-corte, corte do tipo tic-tac, corte com recorte e muito mais, consegue tratar de maneira transparente planos de corte que muitos operadores humanos não aceitam no dia-a-dia porque se perdem, não conseguem mentalizar sua execução e descarga.
A simplicidade não está no robô, sua programação é automática à partir destes softwares específicos da indústria moveleira 4.0, que transformam algo complexo em tão simples. Mas existe muito trabalho antes que tudo isso simplesmente aconteça. O ERP precisa estar ricamente alimentado, o PCP precisa estar sistematicamente organizado, o estoque de matéria-prima precisa estar impecavelmente inventariado e por aí vai… A famosa fábrica reloginho suiço.
Mas e se o seu ERP ainda é inconsistente e mal alimentado, se o seu saldo de estoque ainda é uma vaga ideia quantitativa da realidade, se o seu PCP tem um domínio parcial da sequência de fabricação em andamento, se o seu projeto é tecnicamente falho na concepção de um produto. Aqui temos a má notícia: Sua empresa está “mais ou menos” e o modelo vai falhar. COMO VOCÊ VAI COLOCAR ESSA MÁQUINA PARA ANDAR? O colaborador brasileiro precisa parar de aceitar o mais o menos como resolvido, parar de ir empurrando com a barriga conforme dá, o famoso amanhã resolvo…
Conceber uma indústria de móveis 4.0 exige o estado da arte na fabricação, a busca incansável pelo perfeito. Então chego agora no recado que preciso passar: Se você ainda não tem as máquinas isto não é de todo ruim, mas precisa ir fazendo a lição de casa de maneira urgente, preparar a infra-estrutura tecnológica necessária para receber este tipo de equipamento no momento que sua situação financeira permitir, lapidar e depurar a qualidade técnica das informações.
Como estão suas informações técnicas neste momento? Como está a qualificação de seus colaboradores? Como está seu estoque? Como andam suas práticas do LEAN MANUFACTURING? Como anda sua gestão de pedidos no chão-de-fábrica? Enfim, o que você tem feito enquanto as máquinas ainda não chegam no seu chão-de-fábrica? Pense nisso…